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Para minha filha - Joseph Brodsky

Dai-me outra vida e estarei no Caffè Rafaellaa cantar. Ou estarei sentado a uma mesa,simplesmente. Ou de pé, como um móvel no corredor,caso essa vida seja menos generosa que a anterior.Contudo, em parte porque nenhum século daqui em dianteconseguirá passar sem jazz nem cafeína, aguentarei esse desplante,e pelas minhas rachas e poros, verniz e todo de pó coberto,observarei, daqui a vinte anos, como a tua flor se terá aberto.De um modo geral, lembra-te de que estou por ali. Ou melhor, queum objecto inanimado pode ser o teu pai, sobretudo seos objectos forem mais velhos do que tu, ou maiores. Nãoos percas de vista, pois, sem dúvida, te julgarão.Seja como for, ama essas coisas, haja ou não encontro.Além disso, pode ser que ainda te lembres duma silhueta, dum contorno,ao passo que eu até isso perderei, juntamente com a restante bagagem.Daí estes versos, algo toscos, na nossa comum linguagem.

© 2013 by Tony Godinho

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