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Os Thibault - Roger Martin du Gard

Meu coração está cheio demais, transborda! eu lanço o que posso de suas vagas espumantes sobre o papel.
Nascido para sofrer, amar, esperar, eu espero, amo e sofro! A história de minha vida cabe em duas linhas: o que me faz viver é o amor; e eu não tenho senão um amor: TU!
Desde a minha infância que eu tinha necessidade de extravasar estas ebulições de meu coração no coração de alguém que me compreendesse em tudo. Quantas cartas não escrevi, outrora, a um personagem imaginário que se me parecia como um irmão! Meu coração falava, ou melhor, escrevia a meu próprio coração, com enlevo! Depois, de repente, Deus quis que esse ideal se corporificasse, e ele se encarnou em ti, ó meu Amor! Como foi que isto começou? Nem sabemos mais: de elo em elo, perdemo-nos, num dédalo de idéias sem encontrar a origem. Mas poderíamos sonhar alguma coisa de mai sublime e voluptuosa do que este amor? Procuro em vão comparações. Ao lado de nosso grande segredo, tudo empalidece! É um sol que aquece e ilumina as nossas duas existências! Mas nada disto se pode escrever! Escrito, é como a fotografia de uma flor!
Mas bastas!
Tu talvez tenhas necessidade de ajuda, de consolação, de esperança, e eu te envio, não palavras de ternura, mas estas lamentações de um coração egoísta, que não vive senão para si mesmo. Perdoa, ó meu amor! Não posso te escrever de outra maneira. Atravesso uma crise e meu coração está mais seco do que o leito rochoso de uma ravina! Incerteza de tudo e de mim mesmo, não serás o mais cruel dos males?
Despreza-me. Não me escrevas mais! Ama a um outro! Eu não sou mais digno do dom de ti mesmo!.
Ó ironia de uma sorte fatal que me conduz aonde? aonde? ao nada!!!.
Escreve-me! se eu não te tivesse mais, eu me mataria!.

© 2013 by Tony Godinho

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